A obra apresenta-se sob a forma de «caderno diário» onde Jasmine, uma jovem
imigrante angolana, regista as angústias, os receios e os anseios de uma
existência marcada pela mudança de país e de cultura e pela subsequente perda da
família. Entregue aos cuidados de uma instituição social, Jasmine enfrenta a
integração num novo meio escolar carregando o peso do sofrimento, da pobreza, do
desenraizamento cultural e familiar e da diferença racial. Apesar da raiva e do
desespero que marcam a maioria das entradas do diário, o desenrolar dos eventos
aí registados vai desvendando a insuspeitada possibilidade de a protagonista
encontrar o amor e a amizade num meio aparentemente hostil e despertando nela a
consciência de ter um papel activo e decisivo na construção do seu futuro. As
alegadas dificuldades da personagem no domínio da língua portuguesa servem de
pretexto para um trabalho criativo com a palavra, abundando as comparações, as
metáforas ou a composição de palavras que traduzem a visão do mundo da diarista.
A complexidade da reflexão levada a cabo, embora atribuída à precoce maturidade
de Jasmine, revela a sobreposição de uma voz adulta que reflecte sobre as
múltiplas problemáticas que se cruzam no meio escolar.